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O PRIMEIRO CHAMADO

(escrito pelo próprio Caio Miranda)

 

Com dez anos de idade completei o curso primário e tive que deixar o internato católico.

Fui então matriculado no Colégio Militar do Rio e dali passei à Escola Militar do Realengo, onde, terminado o curso, fui declarado aspirante.

Até os vinte e oito anos de idade minha vida foi decorrendo sem acontecimento algum digno de registro. Transcorria normalmente, com a mediocridade das existências sem sentido espiritual, cultural ou artístico. A vida da caserna impedira totalmente que me dedicasse às coisas para as quais havia nascido.

Transferências continuadas, de uma cidade para outra, não davam oportunidade para me fixar em qualquer coisa mais profunda da vida.

Meus colóquios íntimos com a querida montanha se haviam tornado longamente intervalados. Não havia em mim nenhuma condição para evocar tão sublimes vivências. O terra-a-terra de intermináveis dias corriqueiros, sempre em contato com as brutalidades costumeiras da vida, terminou por fazer de mim, sensível como era, um quase neurótico.

Meu coração ansiava por algo que deveria situar-se mais além daquela infinita monotonia em que minha vida se tinha mergulhado. As coisas que atraíam as demais pessoas, como cinemas, danças, teatros e outras diversões, não tinham, para mim, sentido ou significação alguma, como necessidade ou coisa útil, se bem que as fizesse, naturalmente.

Decidi, certo dia, analisar-me sinceramente a mim mesmo. A idade que havia então atingido me fazia imaginar que as vivências da infância, tão nítidas e encantadoras, teriam sido meras consequências de minha imaginação ou fantasia de criança, quando não simples alucinações de um temperamento psicopático.

Resolvi então “viver a vida”, no sentido bastardo e comum do termo.

Era eu, nessa ocasião, um guapo capitão de cavalaria.

Mas sempre me ficava a impressão de que não era aquilo o que eu procurava, restando-me um vazio infinito na alma. Dentro de mim alguma coisa acenava com horizontes mais belos e amplos. Eu vivia como crucificado, entre as solicitações imprecisas da parte divina do Ser e as forças grosseiras da minha natureza inferior.

Essa pavorosa instabilidade terminaria por conduzir-me à loucura. Minha alma alternava entre os prazeres efêmeros da vida e as delícias indescritíveis que o espírito me prometia. Uma inquietude enorme avassalava por completo minha existência.

Eu existia, apenas, como um autômato. Sobre esse desesperador estado psíquico, começaram a surgir desordens somáticas. Ora era uma secreção incômoda na boca, ora uma dor errática pela espinha ou uma terrível opressão no peito. Um cansaço mortal tomava-me às vezes por inteiro, tirando-me o ânimo para as menores atividades. Já não me sobrava sequer vontade de viver, sobretudo porque começaram a surgir erupções estranhas na pele, e uma insônia insuportável.

Era essa a minha situação quando, em determinada tarde, ao tomar a condução que me levaria para casa de volta do trabalho, pisei, já no interior do veículo, sobre um livro que ali alguém deixara cair. O volume estava com a capa voltada para o chão. Apanhei-o e pude ler o seu título “Quatorze Lições de Filosofia Yógui”, do Yógui Ramachâraka[1]

Comecei a lê-lo, enquanto o ônibus fazia a sua viagem. Só parei a leitura quando a terminei toda, já em casa, altas horas da noite.

Estávamos a 22 de março de 1937.

A partir dessa data, devorei todas as obras existentes sobre YOGA.

Havia achado o meu caminho.

Restava-me começar a percorrê-lo.

 

O PRIMEIRO CONTATO COM O MESTRE

Alguns anos mais tarde, ingressei na Sociedade Teosófica Brasileira. Havia ali uma notável plêiade de instrutores. O curso satisfez-me bastante, – pois na parte dos ensinamentos esotéricos creio que não há, no Brasil, coisa melhor.

Paralelamente, continuei com minhas práticas pessoais, inclusive voltando ao culto da minha montanha. Fazia todas as manhãs, as yógas respiratórias e antes de me deitar praticava a meditação. Reequilibrei-me totalmente e comecei a viver uma vida de intenso regozijo espiritual.

Um dia, fui convidado para instrutor da cadeira de YOGA. O fato encheu-me de justificada alegria. Comecei a ministrar as aulas com verdadeira dedicação e amor. Tinha clara noção do dever que assumira e não desejava decepcionar meus superiores, principalmente o Dirigente Supremo J.H.S., a quem venerava com sincera afeição.

Eis que, no decorrer do curso, chegara a hora de falar a respeito dos ciclos cósmicos, relacionados com a mudança das Eras Zodiacais. O assunto exigia conhecimentos completos sobre a precessão dos equinócios, inclusive saber a razão pela qual o “ponto vernal” dava uma volta completa no equador celeste durante determinado espaço de tempo cósmico.

Meus limitados conhecimentos de astronomia não eram de molde a permitir-me o domínio completo do assunto. Verdade que me poderia limitar a repetir o que já ouvira ou lera sobre o assunto. Contudo, minha noção de responsabilidade e respeito à cátedra impedia-me de ocultar, aos companheiros que me ouviriam, minha dolorosa ignorância. Caso houvesse alguma pergunta (e as havia sempre), eu teria fatalmente que confessar minha incapacidade.

Isso me amargurava bastante.

Na véspera da aula fui, como de costume, fazer minha meditação, antes de deitar. Nessa ocasião eu morava sozinho num lindo quarto de hotel.

Da minha janela divisava-se a Baía de Guanabara e grande parte do soberbo bairro da Glória. A morada ficava em frente a majestoso bosque de velhas árvores frondosas, cuja beleza constituía meu encanto, quando aspirava o ar puro da madrugada, nas minhas práticas matinais.

Sentei-me tranquilamente no Asana preferido e iniciei a meditação.  Sempre a fazia com os olhos semicerrados, embora isso não me impedisse absolutamente de abstrair-me do ambiente.

Geralmente levava hora e meia nesse maravilhoso colóquio com a realidade íntima. Para isso aguardava que todos os ecos da cidade tivessem morrido, a fim de que o maior silêncio possível formasse a moldura do encontro com O meu Ser-Real.

Achava-me totalmente mergulhado na meditação quando fui levado a perceber que uma estranha luminosidade enchia todo o quarto. Naturalmente, embora sem abandonar o estado íntimo em que me encontrava, fui abrindo paulatinamente os olhos.

Meu pequeno apartamento ficava no primeiro andar do HOTEL PAX, com grande janela para o então Campo do Russel, onde hoje se ergue a estátua-imagem de São Sebastião, padroeiro da cidade.

Bem sob minha janela, estava o letreiro luminoso do hotel, e a palavra PAX, em gás-néon azul, iluminava a alcova até meia-noite, quando eram apagadas suas luzes.

A princípio julguei que houvessem esquecido o letreiro aceso e que a estranha luminosidade que enchia o quarto seria disso proveniente. Entretanto, voltando aos poucos à minha plena consciência, pude verificar que não só o letreiro estava apagado como também que a luz vinha de trás, exatamente de dentro do meu quarto.

Cuidadosamente, e até com certo receio, fui volvendo a cabeça.

E – ó encantadora maravilha!!!

Ali, bem junto de mim, encontrava-se a figura luminosa e transparente de um majestoso Ser, com uma atitude tão amiga e tão terna que me encheu a alma de alegria c confiança.

Quedei-me perplexo na contemplação do seu indescritível esplendor. Um delicioso e sutilíssimo perfume enchia o ambiente, fazendo com que a alcova se transformasse num templo de imaculada pureza.

Eu podia ver os detalhes do cômodo e dos móveis através do corpo diáfano do meu fantástico visitante. Mas apesar disso era tão real a sua presença que tudo mais, além d’Ele, parecia simples sonho sem substância nem sentido.

O MESTRE vestia uma soberba túnica, resplendente como puro diamante, que lhe vinha até os pés, e tal era a luz que fulgurava em torno de sua cabeça que me foi impossível distinguir se a trazia coberta ou simplesmente ali havia um grande halo luminoso.

Lentamente, com imponente majestade que não excluía um eflúvio poderoso de Amor, levantou a mão direita, como quem abençoa. E nesse momento ‘justo, saltando como um facho de luz cristalina projetado de sua mão erguida, surgiu no espaço, vivo, luminescente, em pleno movimento, uma miniatura perfeita do nosso sistema solar, com. todos os planetas gravitando em torno do soberbo Sol central.

Vi, com meus olhos, aquele sistema minúsculo funcionar em sua maravilhosa harmonia, durante séculos sem fim. No espaço talvez de um minuto, se tanto, intermináveis períodos de tempo cósmico desfilaram à minha frente, mostrando-me e fazendo-me sentir como se realizava a precessão dos equinócios.

O que mais me assombrava é que eu próprio era também aquele fabuloso microuniverso, pois todo o meu Ser estava integrado e fundido nele.

Fiquei sabendo, definitivamente, a razão pela qual o ponto vernal dava uma volta completa em torno do equador celeste, em vinte e sete mil anos. Isso porque eu vivera, naquele instante, a fantástica e inesquecível experiência de ser um sistema solar.

Terminada a maravilhosa lição, desapareceu a cena cósmica e o MESTRE baixou vagarosamente a mão.

Agora unicamente sorria.

Depois, foi-se distanciando de mim, tornando-se cada vez menor, até sumir, como um ponto, no Infinito. Coroando essa encantadora vivência, surgiu, lá no fundo, no lugar onde a sua imagem se diluíra, o vulto sublime da minha adorada montanha.

Depois tudo desapareceu.

Somente o perfume continuou existindo. E ficou, por vários dias, impregnando meu quarto, minhas roupas e a mim mesmo.

Esse foi meu primeiro contato extra físico com o GURU.

 

[1] Vim a saber mais tarde que o autor era o americano Walter Williams Atikinsons, que usava aquele pseudônimo.

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